Por Amanda Zambelli.
No domingo, dia 12 de fevereiro, aconteceu a edição LVII (57) do Super Bowl, a “grande final” da National Football League (carinhosamente conhecida por nós brasileiros como NFL), em que os vencedores de duas conferências se enfrentam em território neutro, para sabermos quem é melhor time desta temporada.
Se você entende um pouco de futebol americano e acompanha os jogos, sabe que não tivemos grandes surpresas sobre o vencedor do Super Bowl. O time de Kansas City Chiefs, capitaneado por Patrick Mahomes, era o favorito e fez o dever de casa contra o Philadelphia Eagles, em um jogo equilibrado com emoção até o último segundo.
Se a vitória dos Chiefs não surpreendeu, apesar de ter sido um jogaço, faço o convite a pensar sobre as outras surpresas que este Super Bowl nos trouxe, desta vez relacionadas às discussões sobre equidade de gênero e de raça. Mas antes, para colocar todo mundo na mesma página, acho importante falar o que seria “a tal da equidade”.
Por equidade, entende-se dar as condições necessárias para que todos tenham acesso às mesmas chances de sucesso. Por exemplo, podemos ter dois candidatos concorrendo à mesma vaga, mas nem sempre saímos do mesmo ponto de partida, para alguns a trajetória pode ser mais difícil, com mais barreiras, do que para outros. Sendo assim, a equidade é um conceito que nos ajuda a entender como criar condições justas de acesso aos indivíduos, independentemente de onde “partam” nessa corrida em busca das melhores oportunidades.
Com o conceito de equidade em mente, te convido então a me ajudar a responder a pergunta do título. Afinal, o que o Super Bowl e a BadGalRiri têm a nos ensinar e a nos fazer refletir sobre o desafio da equidade nas empresas? Considerando a equidade de gênero e de raça, Rihanna foi a convidada desta edição para fazer o show no intervalo do campeonato mais assistido do mundo e com as maiores cifras relacionadas à publicidade.
Rihanna é mulher, negra, mãe, imigrante vinda de uma vila simples de Barbados, mas como ela bem diz no vídeo de divulgação da Apple Music que circula pelas redes sociais, ela tinha “big dreams” (grandes sonhos). Está desde 2016 fora dos palcos, administrando de forma supereficiente seus negócios, especialmente o de maquiagem voltada para pele negra, chamada Fenty Beauty. E retornou de forma triunfal em um show cheio de referências e homenagens, como o casaco que ela usava, em referência ao estilista negro, Andre Leon Talley, ex-diretor criativo da Vogue, que morreu em janeiro deste ano.
Outro presente desta temporada foi o comercial do intervalo, este infelizmente apenas voltado para as tvs norte-americanas (mas você pode encontrá-lo na internet), com a apresentação de Diana Flores, quarterback feminina da liga mexicana de futebol americano. Sem deixarmos de mencionar a intérprete de libras Justina Miles, que deu show e traduziu à altura toda a performance de Rihanna.
Já com relação especificamente à equidade de raça, vemos pela primeira vez na história do Super Bowl dois quarterbacks negros disputando a final da NFL. Quarterbacks são os passadores, criadores de jogadas, as principais referências de liderança dos times. Me recuso a chamá-los simplesmente de atacantes como algumas traduções tendem a fazer aqui no Brasil. Eles são muito mais do que isso.
Patrick Mahomes, ponto fora da curva, 27 anos e propenso a bater todos os possíveis recordes já que possui dois títulos de Super Bowl em três finais. Figurinha repetida no mínimo em finais de conferência. Jalen Hurts, seu oponente, primeira vez em um Super Bowl, contribuindo para uma campanha impecável dos Eagles. Para além dos campos, eles inspiram outros jovens não só a serem jogadores da maior liga de futebol americano do mundo, mas a liderarem seus times.
Você pode até dizer, “mas nos jogos de futebol e de basquete o que mais vemos são jogadores negros”. E eu te respondo que sim, mas na NFL, até pouco tempo, quarterbacks e técnicos negros ainda eram “novidade”. E ainda não são maioria. Colin Kaepernick, ex-quarterback do São Francisco 49ers, já em 2015 ajoelhava na hora do hino nacional sob forma de protesto em prol da equidade. E agora, só oito anos depois a NFL começou a entender. Mulheres na arbitragem? Já temos, mas poucas. Nas comissões técnicas a gente conta nos dedos de uma mão. E como head coaches (o principal técnico dos times)? No futebol americano, até onde sei temos mulheres como assistentes.
Transpondo esses desafios para as empresas, considerando os aspectos de diversidade e equidade, quantas mulheres são protagonistas na sua organização? Quais os cargos que elas ocupam? Quantas mães? Quantas mulheres negras? Quantos homens negros exercem a função de liderança? Quantos neurodivergentes? Quantas pessoas com deficiência? Pessoas trans? Para quem já desenvolve políticas afirmativas e sei que temos boas iniciativas nas empresas, dou os parabéns e digo “vamos em frente”.
Os desafios são muitos, os aprendizados também. Mas, assim como a NFL, já demos os primeiros passos.
**Amanda Zambelli é Doutora em Administração, professora na pós-graduação da Fucape e pesquisadora de gênero e diversidade nas organizações.